VII Fórum Ibero-Americano e da Iberofonia, promovido por FUNIBER, realizado na milenar cidade de Pequim

VII Fórum Ibero-Americano e da Iberofonia, promovido por FUNIBER, realizado na milenar cidade de Pequim

À conjuntura da visita institucional da Fundação Universitária Iberoamericana (FUNIBER) na República Popular da China, decorreu-se o VII Fórum Ibero-Americano e da Iberofonia. Este importante encontro acadêmico foi celebrado em Pequim, capital histórica da China. A organização esteve a cargo da FUNIBER, da Ueasi Edu&Tech Co., Ltd. e da Fundação Cátedra China. Nesta ocasião, também foi co-organizada pela Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing (Pequim), pelo Centro Europa-África do Escritório de Publicações em Línguas Estrangeiras da China (China Today) e pela Associação Chinesa para a Promoção do Intercâmbio Internacional de ONGs. Do mesmo modo e como em ocasiões anteriores, colaboraram a Fundação Gustavo Bueno, a Associação Ibero-Americana da Comunicação (ASICOM) e a Academia de Diplomacia, da Espanha

Sob o título “Fórum de Cooperação entre a China e os Países de Língua Espanhola e Portuguesa”, o evento foi de particular importância para analisar, a partir de diferentes eixos, o potencial do espaço Pan-Ibérico e da Iberofonia, bem como os desafios comuns para uma possível cooperação com a China. Desse modo, constituiu um âmbito de encontro acadêmico e cultural com a presença de representantes do governo da República Popular da China e acadêmicos de universidades nacionais, bem como membros do corpo diplomático ibero-americano acreditado no país. Igualmente, especialistas da China e dos países iberófonos participaram, com o objetivo comum de estabelecer um marco de referência para o diálogo e a cooperação multilateral nos âmbitos educacional, econômico e cultural. Realizado após a visita de Estado de Suas Majestades, os reis da Espanha à China, o Fórum destacou uma tendência histórica ao longo do tempo para fortalecer a relação entre a China e o Mundo Ibérico, consolidada ao longo dos séculos e favorecida no contexto atual.

Cerimônia de abertura

O delegado da FUNIBER na China e CEO da Ueasi Edu&Tech Co., Ltd., Chen Dong, atuou como mestre de cerimônias. Durante a cerimônia de abertura, Xu Lüping, vice-presidenta da Associação Chinesa para a Promoção do Intercâmbio Internacional de ONGs; Ramón Calduch, vice-presidente da Fundação Cátedra China; e Santos Gracia Villar, presidente da FUNIBER, discursaram para o público. 

Xu Lüping, vice-presidenta da Associação Chinesa para a Promoção do Intercâmbio Internacional de ONGs.

Participação do presidente da FUNIBER

Em sua intervenção, Dr. Gracia destacou a importância de aprofundar uma aliança estratégica entre a China e o conjunto de países de língua espanhola e portuguesa. Destacou que essa cooperação não apenas beneficiaria ambas as partes, mas também teria repercussões positivas na comunidade internacional em seu conjunto, em um contexto global caracterizado pela predominância de cosmovisões ocidentais.

Enfatizou, ainda, o papel estratégico da educação no fortalecimento da cooperação. Nesse contexto, destacou a importância da assinatura da Aliança para a Promoção da Cooperação entre a China e os Países de Língua Espanhola e Portuguesa —entre a FUNIBER e instituições acadêmicas chinesas e ibero-americanas— como um passo decisivo para a consolidação de um modelo de cooperação equilibrado e sustentável.

Refletindo sua convicção sobre a importância transcendental dessa colaboração, Dr. Gracia expressou:

“Estamos convencidos de que uma aliança estratégica cultural e linguística entre a China—que é a principal potência econômica do mundo e está progredindo em todos os demais âmbitos— e o Mundo das Línguas Espanhola e Portuguesa é fundamental para garantir uma humanidade mais plural e diversa dentro de um contexto de concórdia e prosperidade compartilhada”.

Finalmente, reiterou que a FUNIBER, sua Rede Universitária e as mais de 150 instituições associadas continuarão respaldando esse esforço, consolidando os vínculos entre a China e o conjunto dos países hispanofalantes e lusófonos, em benefício de uma ordem internacional mais plural e equilibrada.

Assinatura da Aliança Educacional

Um dos pontos centrais do evento foi a assinatura da Aliança para Cooperação Educacional entre a China e os Países de Língua Espanhola e Portuguesa, assinada pela FUNIBER e sua Rede Universitária, bem como por mais de vinte instituições fundadoras. Entre elas, estão a Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing (Pequim), a Universidade de Finanças e Economia de Nanjing, a Universidade Jianzhu de Shenyang, a Universidade de Bohai, a Universidade da Juventude de Shandong em Ciência Política, a Fundação Internacional para a Educação, a Cultura, a Ciência e a Saúde do Oeste, a Ueasi Edu&Tech Co., Ltd. e a Universidade Central da China.

Representando a Rede Universitária da FUNIBER, participaram a Universidad Europea del Atlántico (Universidade Europeia do Atlântico, UNEATLANTICO, Espanha), a Universidad Internacional Iberoamericana (Universidade Internacional Iberoamericana, UNINI México), a Universidad de La Romana (Universidade de La Romana, UNIROMANA, República Dominicana) e a Universidade Internacional de Cuanza (UNIC, Angola).

A cerimônia incluiu a assinatura digital da Aliança pelos representantes das instituições fundadoras e o descerramento de uma placa comemorativa, no qual intervieram Chang Fuliang, decano da Faculdade de Espanhol e Português da Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing (Pequim); Marta Montoro, diretora-geral da Fundação Cátedra China; Santos Gracia, presidente da FUNIBER; Zhang Limin, secretário-geral da Universidade de Finanças e Economia de Nanjing; Zhao Jianguo, reitor da Universidade de Bohai; e Rubén Calderón Iglesias, reitor da UNEATLANTICO.

A Aliança surge com o propósito de fomentar programas acadêmicos conjuntos, mobilidade estudantil, projetos de pesquisa compartilhados e novas vias de entendimento entre a China e o conjunto de países hispanofalantes e lusófonos.

Conferências magistrais e temáticas

A conferência magistral “Colaboração em ensino superior entre China e os países de fala hispana e portuguesa — políticas sobre cooperação educacional internacional” foi ministrada por Xia Jianhui, subdiretor do Centro de Serviços para Intercâmbio Acadêmico, do Ministério da Educação da China, que abordou uma das principais questões para promover a cooperação internacional no ensino superior e as novas oportunidades abertas no contexto do XV Plano Quinquenal.

O professor Chang Fuliang, por sua vez, apresentou a palestra “A República Popular da China e o Espaço de Países de Língua Espanhola e Portuguesa como Parceiros Estratégicos no Século 21”, na qual abordou o valor estratégico da aprendizagem de idiomas na governança global. Durante seu discurso, identificou como o espanhol continua a se posicionar como a segunda língua estrangeira de aprendizagem entre os cidadãos chineses, enquanto se reforça o ensino do português. Anteriormente, durante a visita da rainha Letizia à Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing (Pequim), Chang Fuliang teve a oportunidade de se reunir com ela para apresentar a situação do ensino do espanhol na universidade e no país, evidenciando o interesse da instituição em consolidar e expandir o idioma na China.

Chang Fuliang, decano da Faculdade de Espanhol e Português da Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing (Pequim).

À conjuntura do evento, a FUNIBER contou com ampla representação, incluindo a participação de Dr. Frigdiano Álvaro Durántez Prados, diretor de Relações Institucionais e da Cátedra FUNIBER de Estudos Ibero-Americanos e da Iberofonia, bem como dos reitores Rubén Calderón Iglesias (UNEATLANTICO) e Luis Dzul (UNINI México).

Cooperação entre o Mundo Ibérico e a China na conjuntura da Iniciativa Cinturão e Rota

Dr. Frigdiano Álvaro Durántez Prados, diretor de Relações Institucionais da FUNIBER, complementou as palavras do presidente da instituição ao destacar a necessidade de fortalecer a cooperação entre o Espaço Pan-Ibérico ou da Iberofonia e a China, com o objetivo de promover uma globalização mais equitativa e equilibrada. Nesse contexto, propôs o idioma espanhol como um instrumento estratégico para a projeção internacional de sua política externa, capaz de oferecer canais alternativos de comunicação em face da globalização com acentuada predominância anglo-saxônica.

Durante seu discurso, Dr. Durántez apresentou a definição do Espaço Pan-Ibérico ou da Iberofonia como uma grande área multinacional, integrada por nações de língua espanhola e portuguesa que abrangem todos os continentes, compreendendo cerca de trinta países e aproximadamente 900 milhões de pessoas. Constitui, portanto, o primeiro bloco linguístico multinacional do mundo. Sublinhou que esse espaço traz visibilidade internacional ao conjunto de países iberofalantes; promove a cooperação horizontal e triangular entre as sociedades da América, Europa, África e Ásia; fortalece as relações comerciais e econômicas; dispõe de recursos humanos e materiais significativos; e contribui para equilibrar a hegemonia cultural do inglês na globalização atual.

Destacou, ainda, a intercompreensão entre o espanhol e o português como fundamento operacional do bloco, ressaltando que, embora assimétrica, ela permite que o espanhol seja compreendido de forma natural em todo o espaço lusófono. Dr. Durántez enfatizou que a incorporação estratégica do espanhol pela China pode ampliar a projeção global deste país, reforçar sua presença nas regiões hispânicas e lusófonas e avançar a um cenário internacional mais equilibrado. Ademais, salientou que o espanhol e o português constituem instrumentos de primeira ordem para a criação de uma Comunidade Global de Futuro Compartilhado.

“Nesse contexto, o idioma espanhol pode ser esse instrumento linguístico e comunicativo que favoreça a aproximação entre os dois espaços, pois configura potencialmente uma ferramenta de primeira ordem para a criação e promoção de uma Comunidade Global de Futuro Compartilhado, objetivo estratégico declarado da política externa da República Popular da China, liderada pelo presidente Xi Jinping”.

Por fim, citou a relevância das iniciativas educacionais que a FUNIBER promove em conjunto às universidades chinesas como uma via concreta para fortalecimento dessa aliança cultural e geopolítica, fomentando a cooperação acadêmica, a mobilidade estudantil e projetos de pesquisa conjuntos entre a China e o mundo hispanofalante e lusófono.

Potencial econômico do Espaço Intercontinental da Iberofonia no contexto da cooperação com a República Popular da China

O reitor Rubén Calderón concentrou seu discurso em destacar o potencial do Espaço Pan-Ibérico ou Iberofonia como um âmbito multinacional com uma capacidade crescente de articulação econômica, cultural e geopolítica. Apresentou uma visão integral do conjunto, destacando sua relevância demográfica, sua presença intercontinental e sua coesão como uma comunidade linguística e cultural. Nesse contexto, abordou os principais desafios que condicionam sua plena consolidação e destacou que uma cooperação estruturada com a República Popular da China pode ser estratégica para ambas as partes, especialmente em um contexto global em constante mudança.

Durante sua exposição, o reitor da UNEATLANTICO descreveu um espaço dinâmico e rico em recursos, embora ainda afetada por assimetrias internas, limitações de infraestrutura, desafios de sustentabilidade financeira, governança regional e modernização tecnológica. Observou que esses desafios exigem um maior grau de integração e coordenação para que o bloco desempenhe todo o seu potencial. Também enfatizou que a relação com a China oferece oportunidades mútuas e contribui para equilibrar a presença de ambos os atores no cenário internacional. 

O reitor destacou que os países de língua espanhola e portuguesa conta com vastos recursos naturais —terras cultiváveis, água, minerais, biodiversidade e energia— bem como um capital humano significativo, fatores que os posicionam como parceiros naturais para a China. Por sua vez, essa pode contribuir com capital, tecnologia, inovação e um mercado de mais de 1,4 bilhão de pessoas, estabelecendo uma complementaridade que torna essa cooperação uma oportunidade única no contexto global. A interconexão geográfica dos territórios iberófonos também reforça seu valor estratégico em nível geopolítico. Concluiu que, por meio do estabelecimento de mecanismos de cooperação estáveis e a longo prazo, o Espaço da Iberofonia poderia se consolidar como um parceiro estratégico de referência em uma ordem global mais aberta, diversificada e multipolar.

“Em resumo, a cooperação entre a China e a Iberofonia não é apenas uma oportunidade econômica, mas também uma aposta para um futuro comum. A Iberofonia e a China, unidas pela história e projetadas para o futuro, têm a possibilidade de construir uma aliança estratégica de alcance planetário”.

Filosofia e pensamento nas civilizações hispânica e sínica. A primeira globalização histórica hispano-chinesa.

Representando a UNINI México, Dr. Luis Dzul, seguindo o estudo elaborado pela Fundação Gustavo Bueno em colaboração com a Cátedra FUNIBER, explorou os paralelismos históricos entre as civilizações sínica e hispânica, bem como os pontos de convergência entre seus sistemas filosóficos e políticos. Enfatizou que a primeira globalização histórica não se limitou ao mero intercâmbio comercial, mas constituiu um encontro de duas racionalidades imperiais, cada uma com sua própria concepção de ordem, autoridade e estabilidade social. Na China, o confucionismo promovia a retidão, a hierarquia e a eutaxia como princípios essenciais para a coesão interna e a harmonia política. No Mundo Hispânico, por sua vez, a filosofia política e jurídica católica articulava uma estrutura de governo racional baseada na lei, na moral e na defesa da ordem universal. Essas tradições compartilhavam uma visão comum: a busca por um governo estável, o respeito pela soberania de outras nações e a projeção de seus valores além de suas fronteiras, o que permitiu que ambas as culturas convergissem como potências políticas a partir do século 16.

Dr. Dzul explicou que a sociedade política chinesa foi historicamente concebida como um todo ordenado, hierárquico e autossuficiente, orientado mais para a preservação do equilíbrio interno de que para a expansão ilimitada. O pensamento confucionista sustentava essa concepção, orientando a ação política para a harmonia social e a responsabilidade moral dos governantes e funcionários.

Ao mesmo tempo, o império espanhol se configurou como uma estrutura política capaz de integrar povos, línguas e culturas sob um princípio comum de ordem, fé e racionalidade. Durante o século 16, o estabelecimento de rotas marítimas e comerciais, que culminou com o Galeão de Manila, conectou oceanos e distintas nações do mundo pela primeira vez de forma estável. Entre 1565 e 1815, essa rota funcionou como a principal artéria do comércio mundial, transportando não apenas bens, mas também conhecimentos e saberes que moldaram o que hoje é reconhecido como a primeira globalização. A presença de Portugal em Macau desde o século 16 até o final do século 20 também contribuiu para o estabelecimento de uma conexão ibérica que se projeta para o futuro. 

Em sua conclusão, Dr. Dzul enfatizou que as civilizações não são definidas por seu isolamento, mas por sua capacidade de se relacionar, mantendo sua unidade e identidade. A primeira globalização hispano-chinesa demonstra que duas plataformas geopolíticas com uma consciência universalista podem cooperar sem se anularem, estabelecendo vínculos de benefício mútuo. No século 21, o espanhol e o chinês constituem línguas de pensamento, cultura e comunicação para mais de dois bilhões de pessoas. A cooperação contemporânea entre a China e os países de língua espanhola e portuguesa está, portanto, enraizada na rede histórica de intercâmbio político, comercial e cultural que uniu Manila, Acapulco e Sevilha, e que pode inspirar novas formas de colaboração hoje em dia em educação, ciência, tecnologia e economia.

Como Dr. Dzul afirmou em seu discurso:

“Ainda ressoam os ecos do processo que configurou a primeira globalização, transportada nos porões dos galeões hispânicos. Portanto, seria sensato que a memória de tais eventos transcendentais servisse não apenas como uma simples evocação que move o orgulho óbvio, mas como uma inspiração para um presente que implique uma colaboração efetiva e mutuamente benéfica entre o Mundo da Iberofonia e a Nação-Civilização Chinesa”.

Medicina tradicional chinesa: uma contribuição para a humanidade

Dr. Ramón Calduch, vice-presidente executivo da Fundação Cátedra China e presidente da Fundação Europeia de Medicina Tradicional Complementar e Integrativa, centro associado à UNEATLANTICO, destacou os avanços e a relevância da medicina tradicional chinesa (MTC), bem como sua internacionalização. Relembrou as palavras do presidente Xi Jinping: “A medicina tradicional chinesa é o presente da China para a humanidade”. Ao fazer isso, enfatizou o valor cultural e de saúde que esse sistema médico contribui para a comunidade internacional, ao mesmo tempo em que destacou que a MTC se tornou uma ponte de entendimento entre o Oriente e o Ocidente, oferecendo uma abordagem integral à saúde.

Indicou, da mesma forma, que vários países europeus iniciaram processos de regulamentação e acreditação profissional que buscam garantir padrões de qualidade e promover sua incorporação adequada aos sistemas de saúde. Nesta conjuntura, a Fundação Cátedra China trabalha para fortalecer a divulgação rigorosa da MTC no âmbito Pan-ibérico, para promover iniciativas de formação e para apoiar projetos de cooperação que favoreçam seu estudo.

Encerramento e novos horizontes para a colaboração entre a China e os países de língua espanhola e portuguesa

O Fórum contou com a intervenção de Zhang Hui, editora-executiva da edição em inglês da China Hoje, que apresentou a dissertação “China e Espanha: construindo uma ponte de amizade por meio de intercâmbios culturais para fortalecer a parceria estratégica integral”. Como último ponto, Marta Montoro fez um discurso de encerramento no qual destacou a importância da iniciativa, bem como a criação de novas alianças. O encontro deixou evidente que a cooperação entre a China e os países de língua espanhola e portuguesa está em uma fase de maturidade crescente, sustentada no diálogo, na complementaridade e no respeito mútuo. Os avanços alcançados e as alianças estabelecidas permitem vislumbrar um horizonte de maiores intercâmbios cujo impacto poderá contribuir para uma ordem internacional mais aberta, equilibrada e orientada para o bem comum.